O percurso artístico "A Selva" inscreve-se na paisagem minderica. Foi desenvolvido em residência artística, com a participação e co-criação de habitantes da comunidade da região, num processo de cariz teatral e documental que explorou métodos e linguagens plurais, para uma experiência energicamente popular. Alimenta-se da memória do lugar, assim como da sua realidade contemporânea, para apresentar, questionar e homenagear a sua cultura, a sua vida e o seu presente.
Este trabalho foi interpretado e desenvolvido com atores do grupo de teatro À Boca de Cena, residente no Cine-Teatro Rogério Venâncio.
Num dispositivo pirandelliano, em que o próprio elenco de atores aparentemente se revolta contra o encenador, o espectador vai sendo guiado da ficção à realidade dos seus intérpretes. Aqui faz-se, pela voz dos habitantes de Minde, um debate sobre o envolvimento e a participação das comunidades locais com os artistas contemporâneos, numa terra que se tem destacado pelos festivais de arte contemporânea e artes performativas que há vários anos e de forma ímpar lá se desenvolvem. Assim, abre-se uma oportunidade para dar voz às dissonantes opiniões dos locais, numa espécie de paródia em auto-crítica assumida, em que se põe a nu os vários estigmas que continuam a distanciar os artistas "forasteiros" da comunidade local, com todos os preconceitos, de parte a parte, à mistura.
De seguida, tomando as rédeas do "espetáculo", são os próprios intérpretes que, num ato de rebelião, vão guiar grupos de espectadores num percurso pelas ruas de Minde, através do relato das suas histórias e memórias mais íntimas.
Finalmente, integrado no dispositivo cénico de "A Selva", é apresentado o documentário "Lavarinto Da Dos Mouquinhos Da Classe do Mota Veiga do Ninhou", realizado por Tiago Correia, sobre a consagrada história do teatro amador de Minde e do seu mentor - Rogério Venâncio - entrevistado para o documentário a poucas semanas de celebrar o seu nonagésimo nono aniversário.
